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  • Foto do escritorLarissa Gobbo

O desafio do ESG na prática


 


A implementação da Agenda ESG é um desafio para aqueles que querem alcançar um modelo de negócio sustentável, responsável e com gestão de riscos. Além da amplitude e complexidade, o tema também pode causar impasse à seguinte questão: se não existe uma certificação ou um selo que padronize a sustentabilidade, como medimos isso?


Diante disso, muitas das discussões envolvem a criação de um novo selo de garantia ESG - mas isso não é necessário, e é justamente esse porquê que quero desmistificar. Spoiler alert! Vamos contextualizar para criar a base de discussão.


Sustentabilidade não é algo novo e vem se desenvolvendo ao longo das quatro últimas décadas, evoluindo e se adaptando conforme as mudanças e demandas da sociedade. Dito isso, o tripé da Sustentabilidade (aqui) se abre no que gostamos de chamar de “leque-unicórnio”, tamanha sua extensão e diversidade de temas. A mais recente repaginada que Sustentabilidade ganhou foi a sigla ESG - do inglês Environment, Social and Governance - e que em português pode ser traduzido para ASG (Ambiental, Social e Governança). Esse termo chegou com força em 2020 e adiciona à agenda a gestão de riscos sob a ótica de investimentos de capital, atualizando os três pilares num formato mais palatável e prático para o universo empresarial.


Do ESG já tiramos algumas pistas do que vem a seguir: ainda não existe um entendimento global sobre como se mensurar ESG e, a partir disso, cresce a discussão sobre a necessidade de uma certificação específica. Aqui já faço um paralelo com a mais inovadora - e nem tão recente - ISO 26.000 de Responsabilidade Social. E por que essa conexão? A inexigibilidade dessa certificação, grande parte pela falta de mensuração, gera justamente resistência de adesão pela ausência de valores quantitativos.


Resumindo em tópicos as 10 principais razões para implementarmos ESG com as ferramentas já existentes ao invés de criar uma nova certificação:

  1. Certificações enquadram e delimitam processos, enquanto a agenda ESG é dinâmica e formada por partes fluidas. Se analisarmos o imenso guarda-chuva de temas do ESG, já existem certificações prontas e mundialmente reconhecidas para a maioria dos temas: é preciso focar onde ainda falta, como a agenda de Diversidade e Inclusão, por exemplo;

  2. Certificar é restringir em parte o acesso, em função do alto custo e complexidade do processo, e Sustentabilidade deveria ser acessível a todos;

  3. O fator motivador da busca por uma certificação para ESG está diretamente relacionado à existência de telhados de vidro e notícias sobre ESG washing, e isso é possível ser endereçado sem necessidade de um novo selo;

  4. ESG vai muito além do conceito de certificação: é o conjunto de várias ações, modelos e certificações já existentes e o resultado prático de uma vontade natural do negócio e da gestão em desenvolver esse braço;

  5. A pressa é inimiga da Sustentabilidade real: o resultado da abordagem de curto prazo atual são ações desconexas do posicionamento das marca e sem objetivos de longo prazo;

  6. "Alcançar ESG" é um processo de longo prazo, envolve tempo de planejamento, estrutura e investimento, e somos uma sociedade que busca atalho e resultado imediatos, mesmo que não eficazes e ESG washing;

  7. ESG é uma agenda complexa e diversa e para fazer é preciso entender sobre, o que envolve anos de estudo, muita habilidade de comunicação e negociação para educar todos os stakeholders e um time de especialistas;

  8. Todos sabemos, por instinto, o que é ser sustentável. O paradigma é sair do discurso para a ação e, para isso, é preciso vontade para iniciar, estrutura e investimento para organizar, e objetivos claros para manter o rumo da trajetória ESG e colher os resultados ao longo do processo;

  9. Uma nova certificação não resolverá as dúvidas de empresas e gestores sobre como implementar a agenda. O desafio é também descomplicar para educar e integrar forças;

  10. Não é uma questão de ter ou não um selo: é sobre ter ou não propósito claro para sua marca, desdobrando em uma trilha baseada em objetivos e metas. É sobre agir - o que chamamos na #Pangeia de "ESG na prática".

Resumindo, tanto ESG quanto sustentabilidade podem ser formados pelo conjunto de certificações, selos e padrões já disponíveis no mercado, mas não se limitam a isso. A questão central deveria ser a aparente facilidade em se sacar o argumento da certificação e ao invés de enveredar no caminho de longo prazo, onde somente os reais especialistas em ESG podem ser os guias.

E aqui chegamos a um ponto polêmico e necessário da discussão: ESG ou sustentabilidade é, sim, conduzido por especialistas e o fenômeno de “todos entenderem disso” é incrível e fascinante, mas também perigoso. É incrível a capacidade de engajamento dessa agenda e a pronta-resposta da sociedade preocupada em endereçar isso. E o perigo vem justamente da facilidade de apropriação do tema que, quando feito de forma superficial e rápida, cria condições propícias para o ESG washing.

Polêmicas à parte, essas conversas são necessárias e muito bem-vindas: é assim que continuaremos a entender os gargalos e falhas da trajetória da Sustentabilidade e do ESG e seguimos em direção ao que realmente importa e é necessário para nós - como planeta e sociedade.


E se você chegou até aqui na leitura - parabéns! Você está realmente engajado e querendo aprender mais sobre o assunto, então a recomendação é que siga seu instinto e continue lendo, pesquisando, procurando e aguçando seu termômetro ESG: é assim que surgem novos especialistas e líderes ESG, que o mundo tanto precisa.

Para fechar, deixo uma provocação para que você, leitor, pense a respeito: algum ponto dessa leitura te regou reatividade? Se sim, investigue mais esse sentimento e entenda o que existe por trás: faltam informações aos argumentos? O que você busca em ESG é realmente ESG ou é surfar a onda da moda? Vc como gestor, gostaria de dar uma resposta ESG na prática para o mercado?


Lembrando sempre que tanto ESG quanto Sustentabilidade falam sobre fazer a coisa certa para a sociedade, negócios e o planeta. É sobre deixar um legado positivo para a humanidade. É sobre regenerar e também preservar. É sobre uma nova forma de pensar nossas relações.

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